quarta-feira, 26 de julho de 2017

Edição Especial Reconhecimento (Perspectiva Filosófica)

A revista Perspectiva Filosófica dedicou um número especial ao tema do reconhecimento na filosofia política contemporânea. Como explica o organizador da edição, o filósofo Filipe Campello (UFPE), a retomada da noção de reconhecimento ganhou força nos anos 90, sobretudo na teoria política e na filosofia social, com os trabalhos de Charles Taylor e Axel Honneth. Mais de vinte anos depois, podemos afirmar que as diferentes contribuições das teorias do reconhecimento para os debates sobre identidade, justiça social e ontologia social tornaram-se parte constitutiva da filosofia contemporânea. A edição reúne trabalhos apresentados no I Colóquio da La Red Latinoamericana de Estudios sobre el Reconocimiento (RELAER), realizado em 2016 em Lima. Os artigos podem ser acessados abaixo.

A edição conta também com a tradução Rousseau e a pulsão humana por reconhecimento (amour prope) de autoria de Frederik Neuhouser (Columbia). Neuhouser foi  um dos grandes responsáveis por transformar os estudos sobre Rousseau argumentando, justamente, que suas famosas genealogias sobre o desenvolvimento das artes e da desigualdade entre os homens constituem as bases modernas da noção de reconhecimento - além de mostrar, em um artigo premiado de 2013, como a teoria rousseuniana da desigualdade continua relevante para as teorias contemporâneas da justiça. Na excelente tradução publicada na revista, Neuhouser discute o conceito fundamental, e extremamente mal compreendido, de amor próprio nas obras de Rousseau, mostrando de que forma o impulso (drive) pelo reconhecimento do outro, e os padrões assimétricos de estima social que esse impulso promove na vida social, é entendido pelo filósofo como sendo a fonte mais importante de sofrimento humano e, ao mesmo, a única forma possível de apaziguamento dos males de uma sociabilidade distorcida.

Em uma entrevista de 2011, para o Blog de filosofia The Stone, Neuhouser apresenta o conceito de amor próprio em Rousseau e explica por que ele precisa ser entendido na chave de uma teodicéia racional. A introdução da noção de teodicéia no pensamento de Rousseau é uma das teses interpretativas mais interessantes de Neuhouser. Se a pulsão humana por reconhecimento é, na verdade, a única fonte de sofrimento e desigualdade entre os homens e mulheres, e se essa pulsão pode assumir tanto uma forma negativa como positiva, então Rousseau pode afirmar que não há nada intrínseco na natureza humana, ou no mundo, que nos impeça de viver de modo justo e feliz - ainda que, por outro lado, nada nos garanta esse resultado.








Filipe Campello
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