quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Declaração da ABCP contra o aceite do pedido de impeachment da presidente do Brasil

A Associacão Brasileira de Ciência Política (ABCP) expressou hoje, por meio de nota pública, grave preocupação em relação ao aceite do pedido de impeachment da presidente do Brasil pelo atual presidente da Camara, deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ). A nota da associação apresenta de modo coerente as razões pelas quais todos nos, pesquisadores e pesquisadoras da política no país, independentemente de eventuais filiações partidárias ou considerações a respeito do atual governo, estamos perplexos com relação ao uso oportunista, e publicamente injustificável, das nossas instituições democráticas. 

A nota pode ser lida abaixo:


A Associação Brasileira de Ciência Política vem a público expressar sua preocupação com o pedido de impeachment do mandato exercido pela presidente Dilma Rousseff, aceito ontem pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. A ABCP conclama os atores políticos do país a agirem com responsabilidade na defesa da estabilidade das instituições democráticas.
Embora o instrumento jurídico-político do impeachment faça parte da institucionalidade democrática existente no Brasil, causa perplexidade e preocupação a forma como ele foi aceito pelo presidente da Câmara dos Deputados. Acuado por gravíssimas denúncias de corrupção e ocultação de recursos no exterior, o deputado Cunha utilizou-se do instrumento, talvez o mais importante na defesa da ordem democrática, como arma na tentativa de resguardar seus interesses privados. Por conta disso, a ABCP expressa a sua perplexidade diante da utilização ilegítima e sem fundamentação jurídica do instrumento do impeachment por uma das mais altas autoridades da república.
Independentemente das opiniões favoráveis ou contrárias ao governo de Dilma Rousseff, a ABCP chama a atenção da população brasileira para os riscos iminentes diante das grandes conquistas da nossa democracia desde 1988. Temos no Brasil instituições republicanas fortes, um judiciário independente e uma cidadania ativa.  Acreditamos que o grave momento por que passa a democracia no país tem de ser resolvido no sentido do reforço da legalidade, da impessoalidade, do interesse público e do equilíbrio entre os poderes que têm inspirado nossa construção democrática desde 1988.