quarta-feira, 1 de julho de 2015

A economia política da crise Grega

O calote grego de 1,6 bilhão de euros no FMI está consumado. O Fundo não aceitou o pedido de prorrogação do governo grego comandado pelo Syriza, que já havia marcado para o próximo dia 5/7 um referendo no qual os cidadãos decidirão se aceitam - "sim" - ou não aceitam - "não" - a proposta de ajuda financeira emergencial oferecida pelo Eurogrupo (ver aqui sobre a eleição do Syriza na Grécia)

O economista e ministro da fazenda grego, Yanis Varoufakis, postou em seu blog a sua justificativa para o referendo grego tal como apresentada na última reunião do Eurogrupo (ver também a brilhante entrevista do Varoufakis para a BBC na qual ele faz a âncora perder a compostura). Para Varoufakis, o referendo seria a opção "'ótima" para todos os envolvidos: caso o governo grego aceitasse a proposta unilateralmente, insistindo no pacote de austeridade, ela seria barrada pelo congresso grego e, caso fosse finalmente aprovada, dificilmente a implementação da austeridade contra a população grega seria viável na atual conjuntura do país. "Nós demos as pessoas que vivem sob a pior depressão econômica uma chance de considerar suas opções", justifica Varoufakis, "nós tentamos usar a democracia como um meio de solucionar o nosso impasse". 

Cinco anos de austeridade fiscal levaram o país a uma queda de 25% do PIB e uma taxa de desemprego astronômica de 60% entre os mais jovens. Segundo o economista Joseph Stiglitz dados como esses tornariam as demandas da "Troika" (FMI, Banco Central Europeu e a Comissão Européia) de superávit primário sobre a Grécia totalmente despropositadas. Uma política eocnômica da Troika seria punitiva na visão do Stliglitz na medida em que os empréstimos anteriores foram usados majoritariamente para o pagamento de credores privados - em muitos casos bancos alemães e franceses.

É por esses motivos que Stiglitz defendeu o voto "Não" em um artigo para o Project Syndicate:

It is hard to advise Greeks how to vote on July 5. Neither alternative – approval or rejection of the troika’s terms – will be easy, and both carry huge risks. A yes vote would mean depression almost without end. Perhaps a depleted country – one that has sold off all of its assets, and whose bright young people have emigrated – might finally get debt forgiveness; perhaps, having shriveled into a middle-income economy, Greece might finally be able to get assistance from the World Bank [...] By contrast, a no vote would at least open the possibility that Greece, with its strong democratic tradition, might grasp its destiny in its own hands. Greeks might gain the opportunity to shape a future that, though perhaps not as prosperous as the past, is far more hopeful than the unconscionable torture of the present. 

Sabemos como iríamos votar.